11 julho 2009

Dia 2 - Dia dos Mudos

Pre Scriptum: Essas são as impressões da experiência de uma semana sem falar. O Caderno Amarelo foi onde escrevi, quando precisei me comunicar com alguém.

Hoje foi fácil, o dia acordou mudo como eu. Morreu-me um ex-colega, então foi só chorar quietinho olhando o caixão e cumprimentar, quem precisava, com um abraço. Nada mais é necessário em um momento desses. A única hora que senti necessidade, e tive de falar, foi com a mãe dele. Ela chegou depois de mim, por isso vi o primeiro contato dela com o filho vazio. Ela olhou o caixão, já que lágrimas são transparentes, e disse: "Meu tesouro, meu amor, perdão! Perdão, Guto." O pai dele perguntou: "Por que perdão, mulher? Não é culpa tua." Ela: "Eu prometi pra ele que ele ia ficar bom.". Nessa hora, eu pensei em ser psicólogo. Talvez um dia seja. Mas esse caderno não serve pra isso, serve para um estudo da linguagem, do comportamento, por isso, só vou dizer o que falei pra ela, a única frase que me foi realmente necessária durante dois dias: "Pega toda a força dele pra ti.". Ele era um guerreiro, totalmente obstinado, nem trincado de dúvida quanto a sua melhora na "batalha" contra a leucemia. Por isso, ninguém entendeu o sentido da derrota, por isso, falei o que falei. Talvez aquela força toda tivesse um sentido, ele, o Guto, foi exemplo pros próprios pais.



Confirmei também uma teoria que já possuía. A religião, sendo verdade ou mentira, faz milagres. Ouvi essa mesma mãe repetir: "Ele era muito perfeito pra esse mundo. Eu entendo isso, mas mesmo assim é tão difícil...". Imagina se ela não tivesse essa crença, essa fé, essa esperança de um algo melhor pro filho dela. A fé, nessa hora, é aquela imagem brilhante, luminosa, vasta, profunda, ao longe, uma luz construída no fim do túnel da mente, lutando contra a imensidão escura dos pensamentos.

4 comentários:

  1. É engraçado o que a fé faz com os homens. A fé, como já foi visto, vai além da religião e da construção de ídolos divinos. A fé, pode ser, acima de tudo, uma arma ideológica de propaganda de massas; vimos nações se guiando cegamente por sábios líderes que ultrapassavam o campo da moral e ética e conduziam povos a façanhas incrivelmente maquiavélicas através da construção de ideiais absurdos. Tudo isso, condicionando o povo a crer em algo. Não só no campo partidário/político/governamental, podemos acompanhar isso também em empresas, corporações e até em clubes de futebol. Tudo o que precisa é fazer o seus interessados acreditarem em seus objetivos a um ponto de cegueira coletiva, que talvez, até faça os mesmos repetirem erros de um passado recente. Afé move montanhas, pensamentos e atitudes.

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  2. acho que a única explicação plausível pro 'sentido da derrota' é o que a mãe do guto disse, que ele era perfeito demais pra esse mundo :T

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  3. Julia, brigado, sinceramente, um dos melhores elogios que já me fizeram, um dos mais sinceros.

    Anônimo, gostaria de saber quem tu é :) Mostraste o outro lado da moeda, que, pela lei do equilíbrio, é feio. Eu acho que esses líderes de que tu falou tem uma arma essencial: as pessoas não sabem o que fazer com seu próprio tempo. Não conseguem definir suas próprias crenças e objetivos. Criar suas religiões.
    É a diferença entre os chefes das empresas e os trabalhadores. Os chefes, quando estiveram desempregados aproveitaram seu tempo livre pra fazer acontecer. Os empregados, quando tem tempo livre, não sabem aonde colocar; E por isso, vendem-no barato a esses líderes.

    Mari, acho que existem muitas explicações, mas quase nenhuma tem sentido. A questão é: será que as coisas Tem sentido?

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