08 julho 2009

Dia 1 - Teoria da Zebra

Pre Scriptum: Essas são as impressões da experiência de uma semana sem falar. O Caderno Amarelo foi onde escrevi, quando precisei me comunicar com alguém.



Essa é a primeira página do Caderno Amarelo. Sim, minha primeira palavra foi "Idade?". Achei que seria uma explicação sobre a experiência, mas não foi. A primeira pessoa que soube, adivinhou que era uma experiência na segunda tentativa. E, em seguida, me recomendou uma psicanalista.

Até agora, notei algumas coisas. Por exemplo, que a nossa presença não é tangível. Explico. Sabe aquele cara que vai no churrasco, mas depois tu perguntas pros teus amigos: "Sério que ele tava lá?"

Nossas opiniões, piadas e histórias são nossa presença.

A minha segunda observação veio logo no início, na segunda página do caderno:




ALGUÉM SEMPRE FALA O QUE EU IRIA FALAR.

Sempre que pensava em algo, alguém repetia meus pensamentos com palavras. E, daí, tiro duas nascentes de conclusões.

Primeiro, quase nada do que penso é meu.
Somos como neurônios, tentando chegar juntos a conclusões. A maioria das coisas que penso, tu sabes também. Mas é muito difícil pensar em todos os argumentos, em todos os lados.
Por isso, sempre um de nós será o promotor(quem acusa) e o outro o advogado de defesa. E, no fim, ouviremos os jurados que estão em nossa volta e seremos nossos próprios juízes, sentenciando nossa opinião ao esquecimento ou não.

Segundo, que as coisas tendem ao equilíbrio através de extremos.
Explico. Alguém argumenta contra a validade desta experiência, por exemplo. Esperando um contra-ataque, esse alguém não precisa pensar nos argumentos a favor desta experiência, pois esses virão de mim: o atacado. Mas quando eu não revido, já que é difícil discutir no Caderno Amarelo, a mente do próprio promotor começa a fazer também o papel de advogado de defesa, se ninguém de fora o fizer.

Exemplo:

A - "Essa tua experiência é ridícula. Tu vai viver uma semana de merda."

Silêncio...

A - "É, mas se bem que depois das coisas ruins, a gente valoriza ter vivido elas, aprende..."

Ou seja, Real Madrid X São Caetano. Pra quem tu vai torcer?
E se o Mauricio Saraiva for o comentarista do jogo, aquele tom professoral vai te irritar por quê?

Ninguém verá sentido em torcer pelo Real, e todos veremos sentido em rebaixar o Mauricio Saraiva. Torcemos, lutamos, discutimos para que em tudo dê a Zebra. Para que onde haja o branco, que aja o preto.

3 comentários:

  1. Imagino que o argumentador, sem ter uma pessoa que ao menos opine sobre o que ele está falando, fique totalmente perdido. Não saiba mais até que ponto o que está dizendo faz sentido e é relevante naquele contexto, pois o Mudo não expressa suficientemente suas reações perante o que se é discutido. O argumentador fica inseguro ao não saber o que o Mudo pensa. É o poder do silêncio.

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  2. Concordo com Gabriel Hickmann. E acrescento que talvez essa não seja uma regra aplicável a qualquer situação, uma vez que nessa específica ocasião a intenção do chamado argumentador talvez fosse o puro e simples diálogo. Dessa maneira, a fim de evitar o fracasso (iminente, por razões óbvias), o argumentador pode ter tentado apenas manter a conversa, não dando tanta importância para a sua opinião ou até mesmo para o conteúdo da conversa. Afinal, o silêncio é constrangedor.

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  3. Com certeza falar sozinho é difícil, por isso, às vezes quem não discute, ganha. Mas existem pessoas quem falam tanto, que mantiveram conversas longas comigo sem eu desferir uma palavra. Talvez por desespero quanto a presença do silêncio.

    Leo, a situação que descrevi é semi-hipotética. Aconteceu, mas haviam outras pessoas para argumentarem por mim. Mas já aconteceu várias vezes comigo: eu estou discutindo com alguém que não é nada agressivo, não rebate. E por isso mesmo, eu começava a pensar em defesas contra meus próprios argumentos, já que ele não o fazia.

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